Por Dr. Luiz Carlos Maciel
Os esteroides androgênicos anabólicos incluem andrógenos naturais como a Testosterona produzida pelas glândulas Adrenais e testículos, assim como todas as substâncias sintéticas que mimetizam os efeitos do hormônio masculino endógeno.
As substâncias sintéticas disponíveis na atualidade podem ser administradas por via oral, tópica ou injetável.
As substâncias orais que mimetizam os efeitos da testosterona endógena, há muitos anos têm o seu uso restrito pelos médicos. Isto decorre do fato que, após serem absorvidas no intestino, estas substâncias passam pelo fígado onde nesta primeira passagem sofrem um processo de metabolização inicial, o qual pode ocasionar danos a este órgão, levando a riscos de diversas doenças hepáticas como cistos, esteatose ou mesmo cirrose.
Na atualidade, as substâncias mais utilizadas são as de aplicações tópicas e injetáveis, pois não sofrem a metabolização inicial pelo fígado como as orais.
A terapia de reposição hormonal tem impacto positivo no tratamento de pessoas cujo sistema endócrino não é mais capaz de produzir andrógenos em quantidade adequada para o bom funcionamento do balanço hormonal interno. Ela melhora a qualidade do sono, reduz a perda mineral óssea, restaura a libido, melhora o controle da glicemia e colesterol, entre outras ações de melhora na qualidade de vida.
A redução da produção interna de hormônios andrógenos pode ser decorrente de doenças congênitas, cirurgias, tratamento de certos tipos de câncer, ou mesmo o envelhecimento precoce.
As substâncias orais que estimulam a produção interna de testosterona podem também ser utilizadas nestes pacientes com resultados muito bons, sem, no entanto, apresentarem os efeitos tóxicos ao fígado como as que mimetizam o efeito dos andrógenos.
A indicação clínica para iniciar a reposição hormonal tem como base a presença de sinais e sintomas decorrentes da baixa produção hormonal associada à confirmação laboratorial desta situação. Objetivo do tratamento é o de restaurar os níveis hormonais até alcançarem os padrões fisiológicos adequados para a idade do paciente em questão. No entanto esta reposição não deve ocasionar problemas a saúde em decorrência de efeitos colaterais destas substâncias.
Infelizmente, nas últimas duas décadas, uma “epidemia escondida” foi insidiosamente instalando-se em nosso meio, o abuso dos Esteroides Androgênicos.
Inicialmente usados por atletas profissionais com objetivos de melhorar a performance e recuperação obtendo assim melhores resultados em suas competições, rapidamente estas substâncias ganharam o “gosto” dos atletas amadores ou mesmo de pessoas que desejavam apenas “melhorar a sua imagem corporal”.
Nesta esteira, outras substâncias foram ganhando espaço entre os jovens que buscam um “corpo ideal” ou atletas amadores que desejam “melhorar” seus resultados, ou mesmo pessoas que buscavam a manutenção de sua “jovialidade”, dentre elas as mais comumente utilizadas em associação ou não com os esteroides androgênicos são: Hormônio do crescimento, insulina, hormônio tiroidiano, moduladores dos receptores de testosterona, cafeína, entre outros.
O uso inadequado ou abusivo destas substâncias está associado a diversas situações deletérias a saúde humana, as quais aumentam conforme a dose e o tempo de utilização. Dentre estas situações, podemos observar problemas em ambos os sexos e individuais:
No homem, observamos riscos referentes à atrofia testicular, infertilidade, ginecomastia, elevação do PSA (Possível alteração na próstata), disfunção erétil, queda da libido (Baixo desejo sexual);
Na mulher, observamos riscos referentes ao hirsutismo (aumento de pelos), calvície nas regiões das têmporas, alterações da voz, aumento do clitóris, alterações menstruais, dor e atrofia mamária;
E, riscos comuns a ambos os sexos, tais como: aumento das hemácias e do colesterol ruim, fenômenos tromboembólicos, doenças do miocárdio tais como: obstrução coronariana, hipertrofia do músculo cardíaco reduzindo o volume de sangue ejetado pelo coração na corrente sanguínea, arritmias cardíacas e até mesmo morte súbita. Observa-se ainda a presença de aumento da oleosidade, acne, agressividade, depressão, insônia, doenças renais e hepáticas.
Felizmente, após parar o uso inadequado destas substâncias, a maioria dos pacientes apresentará um retorno às condições previas ao início do uso dos esteroides androgênicos. Entretanto, isto pode não ocorrer em algumas pessoas, ou mesmo levar vários meses, ou até um ano para apresentar melhora.
No intervalo que pode ser de até um ano, entre a parada no uso dos esteroides androgênicos até a recuperação da função normal do eixo hormonal fisiológico, diversos sintomas ocorrem e deverão ser acompanhados pelo médico e por vezes o suporte de um psicoterapeuta especializado em adictos se fará necessário.
Desta forma, podemos concluir que a reposição hormonal em pessoas que necessitem dela pelo fato de não terem a sua produção interna em níveis normais, sendo que estes variam conforme a idade, é um importante meio terapêutico. Todavia isto deve ser feito com o acompanhamento e análise médicas criteriosas.
O uso em pessoas que não apresentem a necessidade clínica, e buscam estas substâncias com objetivos de mudança na sua configuração corporal, melhora na performance em esportes ou na busca de “jovialidade” devem ser desestimulados em face aos riscos à saúde associados a esta prática.